O Rótulo diz tudo e ajuda muito!
A leitura dos rótulos de produtos é um hábito saudável em nossa vida cotidiana, prática que pode trazer inúmeros benefícios e que na maioria das vezes não é realizada pelo consumidor. Nesse capítulo, temos o objetivo de trazer de forma prática e objetiva esse conhecimento que também está disponível para os produtores rurais ao estudarem e definirem o plano de manejo nutricional para suas culturas. São informações bastante aplicáveis e que estão disponíveis para obter o melhor custobenefício no desenvolvimento das atividades agrícolas. Atentar-se ao conteúdo dos rótulos dos fertilizantes é um recurso que pode converter-se em uma ferramenta de análise interessante ao produtor.
O rótulo possui uma função básica que é a de trazer de forma clara as informações particulares a um determinado item e permitir assim que o cliente possa, por meio de sua análise, efetivar escolhas mais assertivas. As informações escritas sobre as embalagens dos produtos podem atuar como um fator importante para diferenciação ou comparação das diversas alternativas de produtos e fontes nutricionais existentes, principalmente no momento da tomada de decisão pelo produtor em relação a sua compra. A leitura e análise do rótulo ajudam a certificar que o produto adquirido é realmente o ideal e está de acordo com as suas necessidades, considerando a melhor relação custo-benefício.
Como são os rótulos de fertilizantes e a análise de nutrientes?
De acordo com a Instrução Normativa que estabelece as regras quanto às especificações que devem constar sobre o rótulo dos fertilizantes, além dos dados da empresa, nome do produto e seu registro no Ministério da Agricultura, outras informações de caráter técnico também são obrigatórias. Logo, sobre as embalagens de fertilizantes que compramos para aplicação nas lavouras, devemos encontrar as informações sobre suas características físico-químicas, tais como:
- O tipo de fertilizante (se mineral simples, misto ou complexo)
- Sua natureza física, se são sólidos (granulados e misturas de grânulos, micro granulado, pó, farelado, pastilha) ou líquidos
- Suas respectivas garantias de macro (N, P, K, Mg, Ca, S) e micronutrientes (Mn, Fe, B, Zn, Cu, Ni, Cl) em termos % de concentração
- Suas matérias-primas de composição, ou seja, suas fontes nutricionais
- A solubilidade, índice salino e condutividade elétrica
- Dose recomendada quando o produto destina-se a sistemas fertirrigados
- As informações industriais acerca do número do lote, data de fabricação e sua data de validade.
Como podemos observar, o rótulo pode nos orientar com informações que têm grande impacto sobre o manejo e sobre o dia a dia do produtor rural, seja do ponto de vista técnico como também econômico. Interpretando-as de maneira correta, podemos utilizá-las a nosso favor e começar a criar parâmetros e critérios de avaliação de cada produto existente, correlacionando seus respectivos benefícios a seus custos, otimizando assim nosso desempenho gerencial e conferindo a uma maior segurança sobre nossas ações.
Informações relevantes para o dia a dia do produtor
Uma série de vantagens serão evidenciadas a partir do momento em que buscarmos saber mais informações sobre o que de fato estamos adquirindo. Um dos principais aspectos de vantagem se dá pelo fato de empregarmos o produto de forma correta e de acordo com sua finalidade. Tudo isso contribui com:
- Diminuição do mau uso e ocorrência de erros de aplicação do nutriente, amenizando possíveis desperdícios;
- Adequação do tipo e fonte de nutriente com relação ao tipo de manejo adotado na propriedade;
- Redução dos riscos de salinização do solo e da perda de nutrientes por lixiviação por entender de fato quais são as fontes nutricionais que compõem o produto.
Além dos aspectos citados acima, conhecer as matérias-primas e fontes nutricionais que compõem o produto também é um outro fator de grande benefício para o produtor: além de nos indicar os componentes dos produtos bem como a sua qualidade, ela traz também consigo uma série de outras características técnicas.
Tomando-se o caráter qualitativo das fontes, a exemplo das fontes de Potássio, o Cloreto de Potássio (KCl) utilizado amplamente no fornecimento deste nutriente, apesar de ter alta concentração do mesmo em sua composição (60% de K2O), possui em uma concentração de 47% com o íon Cloro, fato pouco observado por muitos agricultores. Portanto, quase metade deste produto é composto pelo micronutriente Cloro que, quando em excesso, pode causar salinidade no solo e interação de antagonismo com outros macronutrientes durante a absorção, como Nitratos, Sulfatos e Fosfatos, por terem a mesma carga. Comparando-se a outra fonte potássica, como o Nitrato de Potássio, este traz consigo 45% de K2O em sua composição e, além do Potássio, traz o Nitrogênio também (12%), em sua forma nítrica. Mais uma característica do Nitrato de Potássio é que ele é livre de Cloro, não causando os malefícios apontados anteriormente em fontes que possuem alto teor deste micronutriente. Portanto, uma mesma fonte traz dois macronutrientes, livre de Cloro, com menor índice salino e melhor eficiência de absorção devido ao sinergismo. Tudo isso pode ser observado no rótulo dos produtos.
Pensando também em fontes nitrogenadas, a ureia, apesar de apresentar uma relação percentual de Nitrogênio maior em comparação às demais fontes disponíveis no mercado, não é a escolha mais assertiva, mesmo considerando a questão do baixo custo que ela apresenta. Isso porque seu Nitrogênio de natureza amídica (CO(NH2)2) não pode ser absorvido diretamente pelas plantas, o que exige antes de tudo a sua transformação em amônio (NH4+) ou nitrato (NO3–) para aí sim serem absorvidos. Esse processo todo é passível de muitas perdas por volatilização e é de difícil quantificação para qual forma a transformação ocorreu. Já a fonte de Nitrogênio proveniente do Sulfato de Amônio, por exemplo, que é amoniacal, traz a garantia de Nitrogênio nessa forma e nos permite ter maior assertividade no fornecimento deste nutriente.
Observando os dois casos, podemos concluir que as informações de garantia contidas no rótulo do produto não devem ser observadas de forma isolada, mas associá-las às informações de quais fontes nutricionais compõem o produto, além de suas características físico-químicas e relações de sinergismo e antagonismos, fatores que influenciam diretamente no aproveitamento destes nutrientes e consequentemente no custo benefício final.
Sendo assim, ao entender a composição dos produtos nutricionais sendo adquiridos, seu manejo poderá ser mais efetivo pelo maior domínio sobre a dinâmica de comportamento que estes compostos terão uma vez no solo ou na água. Podemos elencar mais uma série de benefícios, listando a seguir os principais deles:
- Auxiliará na determinação do local correto de aplicação conforme o nutriente em questão e suas dosagens;
- Evitará situações de incompatibilidade de fontes (no caso do preparo de tanques com soluções nutritivas para fertirrigação);
- Permitirá que possamos potencializar o sinergismo de absorção dos nutrientes, pela redução da pressão antagônica de outros elementos em função do nosso melhor manejo;
- Permitirá a utilização da fonte adequada e mais eficiente a cada tipo de manejo;
- Ajudará o produtor a realizar uma programação de compra mais ajustada e a evitar perda/desperdício de fertilizantes;
- Auxiliará a reduzir a salinização do solo e lixiviação;
- Melhor disponibilização nutrientes de acordo com a demanda das plantas;
- Evita perda excessiva de nutrientes por volatilização;
- Evita queima de raízes e folhas e o aumento do estresse hídrico nas plantas.
Por isso, leia sempre com atenção o rótulo e permita-se compreender o que eles têm a nos dizer.