Acompanhe e monitore seu cultivo

Todo programa nutricional aplicado a campo possui um objetivo preestabelecido. Muitos fatores do ambiente e do manejo podem interferir no resultado deste programa e por isso é importante realizar o acompanhamento da cultura em seus diferentes estágios de desenvolvimento, bem como avaliar aquilo que não está facilmente visível (como quantidade de água aportada no sistema produtivo, desenvolvimento da parte radicular, assim como características químicas do solo). Desta forma, se for observado algum tipo de deficiência ou gargalo em algum componente do sistema, é possível realizar ajustes a fim de otimizar e garantir o sucesso econômico da produção agrícola antes que as perdas sejam irreversíveis. Pensando na mensuração e avaliação destes fatores a campo, alguns recursos podem ser empregados pelo agricultor no intuito de coletar tais informações que, na maioria das vezes, permanecem ocultas. Vamos conhecer algumas destas ferramentas?

Ferramentas de monitoramento: quais são elas e suas funcionalidades

As ferramentas de monitoramento podem proporcionar aos produtores inúmeros benefícios, entre os quais está o maior controle frente às diferentes operações que envolvem o manejo do programa nutricional e da irrigação em sua propriedade. Pensando nisso, antes de tudo devemos entender quais são estes recursos e como eles funcionam para, então, compreendermos sua finalidade. A partir disso, vamos a algumas delas:

Irrigômetro: Ferramenta utilizada para coletar a solução de entrada da irrigação, ou seja, quanto e o que chega até as raízes das plantas. Coletando essa solução, podemos saber qual o volume de água aportada em cada irrigação ou fertirrigação, verificar a vazão do sistema, medir a Condutividade Elétrica e o pH dessa solução. Para confeccionar um Irrigômetro, basta posicionarmos um recipiente sob um emissor da mangueira ou fita de gotejo, instalando-o na metade da fileira de plantio.

Instalação de um irrigômetro.

Extrator de Solução: Ferramenta destinada à coleta da solução nutritiva nas diferentes profundidades do solo. Através dele, é possível ter acesso à concentração dos nutrientes disponíveis, mensurar a Condutividade Elétrica, o pH na solução do solo e assim verificar se há lixiviação de sais no perfil do solo. O equipamento é constituído por uma cápsula microporosa, mais um tubo rígido acoplado à uma câmara de pré-vácuo que, por sua vez, possui uma saída interligada por um microtubo a uma seringa, fato que permite a coleta da solução. Os extratores devem ser instalados na área de máxima atividade radicular e podem ser posicionados de maneira estratégica em profundidades distintas para uma visão completa do bulbo úmido e verificação da existência de lixiviação.

 

Extratores de solução

Tensiômetro: Utilizado para ter acesso à umidade disponível em diferentes profundidades no solo. Mensura a tensão matricial de água no solo, ou seja, a “força” com que a água é retida pelo solo. Com isso, é possível dimensionar a frequência e a intensidade da irrigação, verificar a localização de formação do bulbo úmido e possível acúmulo de umidade fora da zona radicular. É constituído por um tubo rígido que contém água, uma cápsula de cerâmica porosa conectada em sua extremidade inferior, possibilitando a troca de água entre o interior do tubo e o solo, e uma tampa em sua extremidade superior.

 A textura do solo influencia diretamente na curva característica de retenção da água no solo, portanto é importante sempre correlacionar as informações lidas no instrumento com a textura do solo no qual a cultura está sendo conduzida. É recomendável que a instalação da bateria de Tensiômetros seja feita em um local representativo em cada setor, pois assim teremos melhor segurança de que os dados observados estejam expressando corretamente a real situação da área, evitando leituras sub ou superestimadas, sejam por problemas de dano à ferramenta, manchas de solo, etc.

Tensiômetro.

Na condição da ausência de um Tensiômetro, é possível analisar também a umidade do solo de forma manual: neste caso deve-se pegar uma porção de solo retirada da região de acúmulo de raízes com a ajuda de uma pá:

Pá.

Após a coleta do solo, deve-se comprimi-lo na própria mão, onde se observarão os seguintes parâmetros de análise:

Rizotron: O Rizotron é uma ferramenta que possibilita o acesso ao crescimento radicular e visualização do bulbo úmido no perfil do solo. Dessa forma, é possível visualizar o volume ocupado pelas raízes, além de ataques por nematoides e se o bulbo úmido está sendo formado na região de maior concentração radicular. Esta ferramenta é constituída por uma caixa de madeira ou material similar, que tem em uma de suas paredes um vidro que permite a observação do perfil do solo. Um cuidado importante é que devemos manter o Rizotron sempre coberto, seja por filme de polietileno ou tampa de madeira, e instalar a ferramenta dentro da linha de plantio.

Rizoton.

pHâmetro: Utilizado para aferir o valor de pH de uma solução, seja na solução nutritiva, na solução do solo ou na água de irrigação, permitindo realizar ajustes caso esses valores estejam fora do adequado.

Condutivímetro: Utilizado para aferir o valor da condutividade elétrica de uma solução. A condutividade elétrica diz respeito à quantidade de íons dissociados na solução em virtude da presença dos sais na água, portanto, o valor da condutividade elétrica é diretamente proporcional à salinidade. É de grande importância sempre relacionar o valor de condutividade elétrica da solução com a escala de tolerância das culturas à salinidade visto que, caso a E.C. da solução do solo ou da solução nutritiva esteja acima do tolerado por aquela determinada cultura, as plantas poderão sofrer danos como queima de raízes, dificuldade em absorção de nutrientes e consequente diminuição da produtividade.

pHâmetro e condutivímetro no mesmo equipamento.

Como vimos também no conteúdo sobre o Efeito do Cloro e do Sódio, cada cultura possui uma tolerância maior ou menor quanto à salinidade, sendo umas mais sensíveis do que as outras em relação à concentração de sais no ambiente. Sendo assim, a possibilidade de aferição e monitoramento da condutividade elétrica por meio da ferramenta pode ser fundamental para a garantia de bons rendimentos, como podemos observar no quadro a seguir:

Sonda Multi-Íons: Ferramenta capaz de efetuar a leitura das concentrações de 7 Íons de uma solução nutritiva, valor de pH, dureza da água e condutividade elétrica. Os íons que podem ser medidos a partir da sonda são: Sódio, Cloro, Cálcio, Potássio, Magnésio, Nitrogênio Nítrico e Nitrogênio Amoniacal.

Sonda multi-íons

Uma caixa de ferramentas e muitas soluções!

Como acompanhamos nos tópicos anteriores, cada ferramenta de monitoramento desempenha uma aferição específica na coleta do tipo de informação, entretanto, isso não significa que não possamos manejá-las em associação. Em outras palavras, a utilização em conjunto de duas ou mais ferramentas de monitoramento pode ser interessante, tornando-as ferramentas sinérgicas: isto é, cada uma pode maximizar o funcionamento da outra, como podemos observar nas situações a seguir:

Por fim, as ferramentas de monitoramento servem para nos dar uma visão mais detalhada do sistema de cultivo como um todo: através delas é possível observar não apenas as plantas, mas também os fatores que influenciam diretamente no desenvolvimento delas, examinar e fazer um diagnóstico preciso do que pode ser alterado para potencializar esses fatores, permitindo realizar ajustes antes que os as condições afetem de forma negativa e irreversível o desempenho da cultura. Por isso, é fundamental tê-las em sua propriedade e na sua caixa de ferramentas.