Infinitas possibilidades de complementar a nutrição da sua cultura

A nutrição das plantas é realizada majoritariamente via raízes, porém a assimilação de nutrientes também ocorre através das folhas. A aplicação foliar é uma via de fornecimento de nutrientes com o objetivo de complementar a adubação realizada pelos mecanismos de absorção radicular das plantas. Esta via em prática, no dia a dia do campo, se apresenta como uma alternativa estratégica de oferecimento dos elementos essenciais com alta assertividade e eficácia. Em analogia, podemos dizer que a nutrição via foliar para as plantas seria como se fosse uma “injeção na veia” para nós seres humanos: confere a possibilidade de metabolizar rapidamente os nutrientes e atingir o seu objetivo final. Desta forma, muitas são as utilidades e vantagens com o fornecimento nutricional para as plantas por este método, como:

  • Correções de deficiências momentâneas.
  • Possibilidade de aplicação durante todo o ciclo da cultura, principalmente quando há impossibilidade de aplicação no solo.
  • Aplicações com menor quantidade de produtos, evitando a salinização dos solos.

Entretanto, apesar de seus benefícios como alternativa de nutrir as plantas, há uma série de ressalvas em relação a esta técnica e manejo para a garantia do sucesso. Ou seja, o produtor precisa saber que:

1° – Aplicações por esta via em condições desfavoráveis de ambiente, como de temperatura e umidade, podem reduzir a eficiência da absorção dos nutrientes.

2° – Nosso manejo quanto às aplicações foliares deve ser preciso e bem pensado, pois qualquer descuido pode levar a danos severos as plantas, como situações de queimas das folhas.

3° – Trata-se de uma via que, em grandes culturas por exemplo, requer a entrada de maquinários na lavoura para sua execução.

4° – Chances de incompatibilidade de misturas no preparo da calda são mais recorrentes, o que exige atenção.

5° – O ajuste e monitoramento do pH da solução aplicada é fundamental para a garantia da disponibilidade de nutrientes.

O uso desta estratégia no dia a dia no campo se apresenta como uma solução de rápida interferência e facilmente aplicável nos mais diferentes sistemas de cultivo (sequeiro, fertirrigado e hidropônico). Em prática, constatamos uma pluralidade no atendimento dos mais variados objetivos e situações que eventualmente possam se apresentar ao produtor: seja pelo viés de nutrir de maneira a complementar, corrigir ou melhorar algum aspecto da nutrição. Abaixo reunimos alguns exemplos:

Como acabamos de observar, a gama de produtos em nutrição a serem oferecidos por essa via é grande, assim como seus objetivos podem ser os mais variáveis possíveis. Já entendemos que existem diferentes objetivos, mas como esse mecanismo de absorção e entrega da nutrição funciona em prática? Isso que compreenderemos mais adiante.

Entendendo o processo de absorção foliar

A absorção via foliar é um processo que se inicia com a pulverização da solução contendo os nutrientes sobre a superfície das folhas. Resumidamente, neste princípio os íons em solução transpassam a cutícula cerosa e as células da epiderme pelo processo de difusão (podendo ser passiva, a favor do gradiente de concentração de íons, ou ativa, quando tem-se um gasto de energia para que essa absorção ocorra). Os íons continuam a percorrer a estrutura foliar, chegando até a membrana plasmática e adentrando ao citoplasma onde são direcionados às suas respectivas funções relativas ao metabolismo vegetal. Abaixo podemos observar mais facilmente o caminho percorrido pelo nutriente:

Sabemos que as folhas são estruturas planas e achatadas, que antes da possibilidade de carrear os nutrientes para o seu interior, elas desempenham diferentes funções que são cruciais ao desenvolvimento das plantas, entre as quais as fisiológicas, como por exemplo: a fotossíntese, transpiração, trocas gasosas, etc.

Para compreendermos a fundo o mecanismo de absorção e os aspectos que eventualmente possam influenciar esta via de nutrição, vamos relembrar algumas características básicas da formação interna das folhas. Sob o viés da morfologia, como podemos observar no esquema abaixo, a composição estrutural da folha em geral engloba as seguintes camadas:  cutícula, epiderme, parênquima (paliçádico e lacunoso) e os estômatos.

 

Fonte: Almeida & Almeida, 2018

A concepção estrutural foliar em prática, pensando no viés da absorção, apresenta diferentes rotas de assimilação dos nutrientes, como podemos observar no esquema a seguir. Ela pode se apresentar nos seguintes caminhos:

Fonte: Eichert et al. (2005)

Essa dinâmica de absorção está muito relacionada à composição química da camada cuticular: conforme as características e afinidade das substâncias pulverizadas, diferentes vias serão preferencialmente utilizadas. Em prática, isso significa que a eficiência e o êxito do processo de absorção são dependentes de diversos fatores. Condições de ambiente (ex.: temperatura, umidade relativa, luz, entre outros) bem como a fisiologia das plantas (como as caraterísticas inerentes à espécie de vegetal, espessura e cerosidade da cutícula, presença de tricomas, concentração de estômatos na face superior e inferior das folhas, etc.) são algumas características que influenciam no desempenho da assimilação nutricional. Pensando nisso, mais à frente falaremos um pouco sobre esses aspectos que são passiveis de interferir no processo de absorção.

Fatores que interferem na absorção

Como vimos no tópico anterior, diferentes fatores podem influenciar no processo de absorção foliar, fatores estes vinculados propriamente à planta, às características de suas folhas e também às condições do ambiente. A seguir reunimos os principais fatores a se conhecer e suas relações práticas.

Começando pelos atributos da folha, temos:

  • Idade das folhas

Em virtude da maior atividade metabólica nesta fase, a absorção de nutrientes nas folhas novas é maior do que em comparação às folhas mais velhas. Igualmente, a penetração dos nutrientes é mais fácil em folhas que estejam nas fases iniciais de desenvolvimento pela sua menor espessura da cutícula (menor quantidade de ceras e de cutina). Entretanto, substâncias lipoidais são mais facilmente absorvidas pelas folhas mais velhas, visto que nesses estágios de desenvolvimento as folhas apresentam maior quantidade de ceras e cutina na cutícula: o que pela sua afinidade química (também lipídica) permite a melhor absorção dessas substâncias.

  • Grau de hidratação das folhas

Cutículas bem hidratadas conferem maior permeabilidade de água e nutrientes em solução, já que tal condição de hidratação mantém as lamelas cerosas afastadas. Quando as cutículas se encontram desidratadas e a folha murcha, a permeabilidade é drasticamente comprometida.

  •  Estrutura

A presença de estômatos sobre a superfície foliar e a espessura da cutícula influenciam na absorção. Folhas com maiores quantidades de estômatos, assim como folhas com espessura cuticular fina, favorecem a absorção. Folhas espessas e o grau de pilosidade sobre a superfície foliar dificultam a assimilação dos nutrientes.

  • Concentração de nutrientes

O estado nutricional da planta (concentração interna dos elementos) pode influenciar na absorção dos nutrientes. Em geral, quando a concentração interna de um íon aumenta, a taxa de absorção declina e vice-versa.

Já entre os fatores externos de influência, destacamos:

  • Temperatura

A temperatura pode apresentar efeitos adversos conforme o seu grau de elevação, principalmente por ser um fator que influencia diretamente os processos fisiológicos das plantas (dinâmica de abertura estomática, respiração). Em um primeiro momento, o aumento da temperatura sobre o metabolismo da planta pode levar a uma aceleração do processo de absorção. Entretanto, transpassando um limite tolerável para o adequado funcionamento dos processos fisiológicos, este fator pode atuar de maneira reversa, retardando a absorção.

Sob outro viés prático, as temperaturas elevadas nos níveis aceitáveis aceleram o processo de evaporação da solução em nutrientes (soluto). Estes, por sua vez, têm a sua concentração aumentada sobre a superfície foliar, circunstância que indiretamente acaba por contribuir com a maior penetração dos íons para o meio interno da folha. Entretanto, vale salientar que se tal processo acontecer em condições de umidade relativa baixa e excessiva temperatura, esta concentração de solutos pode levar a quadros de toxicidade (queima das folhas). A temperatura e a umidade relativa do ar afetam a velocidade de secamento da solução aplicada e, portanto, a possibilidade de estabelecimento de uma película líquida na superfície da folha.

Já a redução da temperatura, por seus efeitos sobre o metabolismo vegetal, pode desacelerar os processos de absorção foliar, seja pela via passiva (difusão) ou ativa (indiretamente dependentes do adequado funcionamento do metabolismo).

  • Luz

A luz está intimamente envolvida na fotossíntese e nos demais processos fisiológicos concomitantes, ou seja, ela tem grande influência sobre a planta. No que tange o processo de absorção, quanto maior a intensidade luminosa (níveis adequados), maior será a absorção da folha, visto que a absorção ativa constitui-se num processo metabólico e exige, portanto, energia fornecida pelo ATP.

  • Umidade Relativa do Ar (UR%)

Assim como os aspectos da temperatura, a variação da umidade relativa do ar pode conferir diferentes quadros de assimilação, sendo que seus efeitos têm relação direta com a temperatura do ambiente, tanto situações positivas quanto negativas. Por exemplo, a presença de umidade no ar favorece a absorção foliar. Em prática, ela impede a evaporação da solução nutritiva aplicada, contribuindo com a sua manutenção por mais tempo sobre a superfície foliar, o que indiretamente de fato aumenta as chances de absorção dos nutrientes.

Entretanto, situações em que a temperatura está baixa (a ponto de formação de neblina e orvalho), a absorção foliar pode ser comprometida: com a deposição da água provindo da atmosfera (umidade) e depositada sobre a superfície foliar, indesejavelmente pode provocar uma “lavagem” de nutrientes, induzindo a sua saída da folha pela inversão no gradiente de concentração dos íons presentes nos compartimentos externos da membranas da célula.

Já em UR% muito baixas, a absorção foliar também é prejudicada, visto que ocorre a rápida evaporação da solução aplicada, podendo aumentar a concentração dos solutos a níveis tóxicos. Além disso, há o favorecimento da transpiração, levando ao murchamento e diminuindo a permeabilidade da cutícula aos nutrientes.

  • Modo de aplicação e molhamento

As pulverizações devem levar em conta a capacidade das folhas em reter a solução sobre a sua superfície. Por isso, cuidados com os aspectos de tamanho das gotículas, formulações adotadas, são essenciais para o grau de eficiência da nutrição via foliar. Vale lembrar que o princípio de absorção foliar se dá fundamentalmente por meio da superfície molhada. Por sua vez, a capacidade de retenção dessa superfície está intimamente ligada à sua natureza e tensão superficial, o que de fato é variável de espécie para espécie.

Em virtude disso, no campo o produtor pode recorrer ao uso de adjuvantes, como a exemplo dos surfactantes adicionados à calda de pulverização, que contribuem para o aumento da distribuição das gotas sobre a superfície folha, quebrando a sua tensão superficial e resultando na maior uniformidade de aplicação e contato foliar com a solução nutricional. Confira abaixo os diferentes tipos de adjuvantes e respectivos modos de ação existentes no mercado:

Quando utilizar a aplicação foliar?

Vimos que a nutrição via foliar é uma alternativa adicional ao que é fornecido pelas plantas via solo. Ela nunca deve ser posicionada de forma substitutiva à nutrição via radicular. Sendo assim, sobre as funcionalidades, podemos destacar três estratégias globais:

Especialmente em situações limitantes de absorção dentro do sistema produtivo, a aplicação foliar posiciona-se como uma ferramenta capaz de contornar tais obstáculos. Em seguida, reunimos algumas situações práticas para melhor compreensão, ou seja, podemos recorrer à adubação foliar quando existir:

  • Fenômeno de seca ou alta salinidade (baixa absorção dos nutrientes do solo).
  • Alta incidência de nematoides (dificuldade de absorção radicular).
  • Impedimento físico na estrutura do solo (compactação).
  • Deficiência de nutrientes imóveis em órgãos vegetais específicos (ex.: aplicação direcionada de Ca e B na fase de florescimento).
  • Quando a absorção de nutrientes pelas raízes está limitada, seja por:
  1. Desequilíbrio nutricional no solo (competição entre cátions).
  2. A disponibilidade para absorção das plantas é limitada:

– Baixa reserva no solo (por exemplo em solos arenosos, solos de textura grossa e baixa matéria orgânica);

– Pela fixação/imobilização (solos argilosos, com alta matéria orgânica e alto pH);

– Situações de encharcamento dos solos – hipoxia (falta de oxigênio);

– Situações de frio extremo, onde a atividade radicular é reduzida.

  1. Quando as aplicações de fertilizantes no solo são reduzidas.
  2. Após florescimento, lenta absorção, devido à atividade reduzida do sistema radicular.

Além das situações inerentes ás condições de solo que acabamos de ver, a outra circunstância para a realização de aplicações foliares é quando constatamos situações evidentes de deficiência de um elemento que dever ser corrigida rapidamente, como também, no cultivo de frutas no Verão-Outono, com o objetivo de repor as reservas para o ano.

Vale lembrar também que, em algumas situações, alguns nutrientes têm maior eficiência na sua absorção pela planta por esta via. Um exemplo prático são os micronutrientes, elementos os quais são essenciais às plantas. Neste caso, devido às menores exigências pelas culturas, as necessidades das plantas são supridas em poucas pulverizações, onde a eficiência de absorção acaba sendo maior por conta da interação que estes elementos podem ter com as partículas do solo. Ou seja, esta circunstância viabiliza ainda mais a vantagem de se entregar tais nutrientes via foliar:  maior segurança da entrega e absorção.

Quando se visa corrigir uma deficiência que já foi expressada em sintomas, é importante considerar a mobilidade dos nutrientes em sua redistribuição pelo floema (das folhas para outro órgão de acúmulo). Como podemos observar na tabela abaixo, elementos como Boro e Cálcio são imóveis: a aplicação foliar se enquadra como corretiva ou preventiva, como no caso do tomate. Neste caso, as aplicações têm por objetivo atingir diretamente flores e frutos.

Como avaliar um fertilizante foliar

Assim como discutimos em nosso conteúdo sobre características de um bom fertilizante, os quesitos de avaliação e identificação de uma boa fonte nutricional foliar não são diferentes. Dentre os parâmetros da qualidade que o produtor deve se atentar, estão:

  • Garantia de nutrientes (macro e micronutrientes).
  • Matériasrimas (fontes nutricionais) que compõem o produto (observar sinergismos e/ou possíveis antagonismos), no caso dos micronutrientes, se são fontes quelatadas.
  • Solubilidade (em gramas/L) a temperatura de 20°C.
  • Tempo de dissolução em segundos: quanto mais rápido, melhor).
  • pH (1 g/L) a 20°C.
  • Condutividade Elétrica (CE) (1 g/L) a 20°C.
  • Solubilidade máxima (g/L) em diferentes vazões.

Ou seja, isso significa que uma fonte fornecida sob via foliar, em acordo com cada parâmetro, deve apresentar:

Dicas para uma aplicação foliar com eficiência

Para que a estratégia de aplicação e nutrição foliar seja conduzida com sucesso, além das questões inerentes às características do fertilizante foliar, existem também algumas recomendações práticas que são essenciais para a eficácia da técnica, entre os quais:

  • Realizar as aplicações no início da manhã ou no final da tarde.
  • Evitar altas temperaturas e baixa umidade relativa.
  • Não esqueça das condições adequadas de ambiente que têm influência sobre a dinâmica estomática e que, por consequência, impactam sobre o processo de absorção. Lembre-se das condições estabelecidas no esquema abaixo:

  • Aproveite as pulverizações de agroquímicos para otimizar as operações na sua lavoura. Neste caso sempre tomando o cuidado com relação à compatibilidade dos produtos (se necessário, realize testes prévios de compatibilidade ou consulte um profissional).
  • Atenção para que as aplicações sempre sejam feitas em acordo com o pH apropriado e com adjuvantes. Saiba que:

– A faixa ideal de pH para calda de pulverização de maneira geral entre 4,5 e 6,0 ;

– Sais de Cálcio: pH ótimo 5-6, decresce a pH 4;

– Para P (Fósforo) pH ótimo 7-8.

  • Utilize produtos com tecnologia de aplicação foliar que contenham quelatos, complexantes como ácidos fúlvicos, estimulantes com hormônicos naturais, aminoácidos e nutrientes de amplo espectro.
  • Leia o rótulo dos produtos foliares e químicos: lá estarão todas as informações e orientações dos fabricantes sobre as condições adequadas e restrições de compatibilidade de uso em conjunto com outros produtos.

Vimos que a nutrição foliar é uma estratégia que requer muitos cuidados para que seja assertiva, efetiva no modo de nutrição e potencialização da performance da planta. Além das vias tradicionais de aporte como solo e sistemas fertirrigados, a SQM VITAS possui em seu portfólio de nutrição de plantas, soluções nutricionais para os mais diferentes cultivos aplicáveis neste conceito de nutrir as plantas via solução foliar. Produtos elaborados com matérias-primas nobres, fórmulas nutricionais completas e hidrossolúveis. Pensou em nutrição foliar, chame a SQM VITAS.