Com sol ou chuva, sim para a fertirrigação!

A fertirrigação é a técnica que consiste no fornecimento das fontes nutricionais via irrigação, ou seja, utiliza a água como veículo para disponibilizar os nutrientes para as plantas.

Muitos produtores pensam que quando chove não é necessário realizar a fertirrigação: isso porque há um receio de que, com a chuva, os nutrientes aplicados sejam “lavados” pela chuva. Apesar da condição temporal chuvosa, as plantas necessitam do aporte dos nutrientes a fim de suprir as necessidades quanto às suas atividades metabólicas. Então como fazer para nutrir a cultura em dias de chuva de forma eficiente e, principalmente sem “lavar” (lixiviar) os nutrientes que ficam na solução do solo?

Primeiramente, é necessário calcular o volume de água habitualmente oferecido durante a fertirrigação para conseguirmos assim reduzi-lo a um volume menor, mas que ao mesmo tempo continue disponibilizando a quantidade justa de nutrientes, mantendo assim a estabilidade e qualidade da nutrição.  Para isso, precisamos também ter algumas informações: o tempo de avanço do sistema de fertirrigação e a vazão em litros/hectare/hora, ambas calculadas a partir das características individuais do sistema de fertirrigação implantado na propriedade.

O que é o tempo de avanço? Como o calculamos?

O tempo de avanço nada mais é que o tempo mínimo necessário para que a solução nutritiva chegue ao local da planta, representado esquematicamente desta forma:

Para descobrirmos o tempo de avanço, contamos com o auxílio de uma das importantes ferramentas de monitoramento que utilizamos em campo: o condutivímetro. Nesta mesma linha, através de uma situação prática, vamos entender como utilizarmos tal recurso como método de mensuração do tempo de avanço.

Antes de tudo, uma vez no campo e sob o sistema de irrigação em que se deseja avaliar o tempo de avanço, é preciso posicionar um coletor embaixo da linha de gotejo (geralmente na metade do setor) para que seja realizada a leitura da condutividade elétrica da solução por meio do condutivímetro. No momento em que se inicia a injeção da solução nutritiva, deve-se marcar o tempo e manter o condutivímetro embaixo do emissor de forma a monitorar a variação da condutividade elétrica da solução que chega. Normalmente, quando se inicia a fertirrigação, por princípio contamos apenas com a chegada da água, ou seja, neste caso a condutividade elétrica geralmente fica entre 0 e 0,5. Porém, quando ocorre a chegada da solução nutritiva, especialmente na posição de leitura em que se encontra o equipamento, a condutividade elétrica dá um salto instantâneo numa proporção de 2 ou 3 vezes do valor que estava aparecendo inicialmente. Na sequência, deve ser marcado o tempo que levou do início da injeção da solução nutritiva até essa virada brusca de valores de condutividade elétrica. Este tempo mensurado, entre a injeção da água, sucedida pela expressão da chegada da solução nutritiva através do incremento brusco sobre a CE, caracterizamos por ser o tempo de avanço. Para melhor compreensão, observe o esquema a seguir:

Uma vez com a informação do tempo de avanço, conseguimos dimensionar o tempo mínimo de irrigação por setor. Desta forma, o tempo mínimo de irrigação por setor é igual a duas vezes o tempo de avanço observado.

E a vazão do sistema, como calculamos?

Com a quantidade de solução coletada neste determinado tempo, é possível também conferir se a vazão dos emissores está entregando o mesmo volume informado na vazão nominal dos emissores. Para isso, é necessário ter a informação de espaçamento entre mangueiras (m), espaçamento entre emissores (m) e vazão nominal do gotejador (L/hora). Para compreendermos melhor, vamos a um exemplo: Características do sistema: Espaçamento entre Mangueiras = 1,5 m; Espaçamento entre emissores = 0,3 m, vazão = 1,5 L/hora.

1.Determinação da quantidade de mangueiras:

Lembrando que 01 hectare = 10.000 m2 = 100m x 100m

100/1,5 = 66,67 linhas de mangueiras.

2. Determinação do número de gotejadores por mangueira:

100/0,3 = 333,33 gotejadores por mangueira

3. Determinação do número de gotejadores por hectare:

a x b = 22.222,22 gotejadores por hectare

4. Determinação da vazão (m3/hora/hectare):

C x 1,5 = 33.333,33 L/hora/hectare = 33 m3/hora/hectare

Neste exemplo acima, encontramos que, em uma hora de irrigação, entregamos um volume de 33.333 litros em 10.000 m2, ou seja, 3,3 litros/ m2 é igual uma lâmina de 3,3 mm. Comparando com o volume de uma chuva, o volume entregue pela fertirrigação é muito baixo, e além disso entrega nutrientes.

Por fim, após encontrar o valor do tempo de avanço e vazão do sistema, é possível conhecer o tempo mínimo necessário para entregar a solução nutritiva para as plantas e determinar o volume de água que será entregue pelo sistema, o que também auxilia no cálculo da concentração da solução nutritiva.  

Fertirrigação mesmo com chuva!

Podemos salientar muitas vantagens em prosseguir com a rotina da fertirrigação mesmo considerando os dias chuvosos, dentre elas você encontrará:

  • A possibilidade de manter a solução nutritiva disponível para as plantas de forma integral e equilibrada ao longo de todo o seu ciclo
  • Continuidade ao acesso e aproveitamento da nutrição pelas plantas (já que a entrega dos nutrientes é dimensionada quantitativamente, na concentração ajustada e no tempo mínimo para injeção da solução) para o aproveitamento imediato pelas raízes (Ofertando os nutrientes já em solução, eles ficam disponíveis para a pronta absorção pelas raízes), minimizando o receio do produtor para ocasiões de perdas de nutrientes para o ambiente (exemplo: lixiviação)
  • Oferecemos condições para a continuidade dos processos que envolvem o crescimento vegetal e expressão do seu pleno potencial de desenvolvimento, sem provocar situações de rupturas na oferta de nutrientes, o que por sua vez provocaria a desaceleração da performance da planta
  • Otimizamos o uso da água: já que podemos conciliar a sua oferta natural com tecnologia da fertirrigação – neste contexto a chuva vem a suprir parte da demanda hídrica da planta, sendo a fertirrigação aplicada apenas para o fornecimento dos nutrientes na forma já disponível para absorção.

Uma prática muito realizada pelos produtores é a aplicação de fertilizantes granulados nesses períodos chuvosos e a suspensão da fertirrigação, principalmente pelo receio de ter os nutrientes “lavados”. É importante lembrarmos que, mesmo com chuva, os fertilizantes granulados demoram para serem solubilizados e terem seus nutrientes disponíveis para a absorção das plantas – isso em comparação com a fertirrigação, onde os nutrientes já chegam na forma disponível para absorção das raízes. Dessa forma, quando aplicamos os granulados, principalmente aqueles que possuem fontes nutricionais com solubilidades diferentes em sua formulação, os nutrientes não são disponibilizados naquele exato momento, com as relações apresentadas na fórmula, podendo causar uma “lacuna” na nutrição da planta, ainda mais em uma situação em que estímulos vegetativos são acionados. Se isso acontecer na fase reprodutiva da planta, ela pode ter sua produtividade afetada.

Vamos supor que em um período chuvoso foi realizada a aplicação de um granulado de formulação NPK 20.00.20, que tinha em sua composição Ureia e Cloreto de Potássio: como a ureia é mais solúvel que o KCl, o Nitrogênio acaba ficando disponível antes do Potássio, fornecendo apenas Nitrogênio em um momento, e apenas o Potássio em um segundo momento, gerando uma relação N:K muito desbalanceada em ambos os momentos.

Quando aplicamos os nutrientes via fertirrigação, estes já são solubilizados quando depositados no preparo da calda, chegando nas raízes das plantas com as relações indicadas na formulação.

 Como vimos, são muitas as vantagens quando sabemos o que e por que estamos oferecendo a nutrição para a planta através da fertirrigação e principalmente sabendo manejá-la corretamente em períodos chuvosos. Entretanto, alguns detalhes ainda merecem atenção:

  • Observar o tipo de solo presente em sua propriedade para que se evite situações de encharcamento, visto que as plantas não conseguem absorver os nutrientes em tais condições;
  • No intuito de driblar as consequências negativas relacionadas a uma possível situação de excesso de água no solo, recomenda-se neste caso priorizar fontes de rápida absorção de maneira que a demanda da planta seja atendida no exato momento da necessidade destes nutrientes, evitando-se assim possíveis perdas.

Enfim, para uma eficiência completa e garantia de bom desenvolvimento da sua cultura, não interrompa o seu manejo da fertirrigação, mesmo em dias de chuva.