Entenda a importância de conhecer as mudanças que ocorrem na cultura
Ao longo de nossas vidas passamos pela fase de infância, adolescência e adulta lidando com diferentes mudanças em nosso corpo e também alterando nosso padrão de alimentação: quando somos crianças, comemos alimentos mais adequados a algumas necessidades e em quantidade e qualidade diferentes se comparadas a quando somos adultos. Assim também é a “alimentação” das plantas durante seu ciclo – sejam estas anuais ou perenes – elas também possuem diversas fases e, consequentemente, diferentes demandas nutricionais em cada uma delas, sejam quantitativas ou qualitativas. Isso ocorre porque cada fase é determinada pela mudança da relação fonte-dreno na planta, ou seja, em quais órgãos da planta os fotoassimilados estão sendo translocados prioritariamente para promover o seu desenvolvimento.
Uma das mais importantes perguntas com a qual nos deparamos no dia a dia de produção é a seguinte: se não observo o que está se passando e quando ocorrem as mudanças, como posso ajudar no desenvolvimento da cultura na hora certa? Temos que identificar no campo a espécie que estamos lidando, em qual fase fenológica estamos trabalhando para então ajustarmos nosso plano de nutrição. Cada fase fenológica, independente da cultura, tem um objetivo de crescimento (desenvolvimento de raízes e folhas, emissão de flores, pegamento de frutos) e consequentemente uma demanda nutricional diferente. Desse modo, quando a planta está focada em desenvolver folhas (fase vegetativa), ela tem uma demanda diferente de nutrientes de quando ela está focada em emitir flores (fase reprodutiva). Identificando esse foco de crescimento da cultura, conseguimos adaptar a nutrição às suas necessidades naquele determinado estágio do desenvolvimento. Assim sendo, podemos planejar o bom uso dos nutrientes que a planta precisa naquele momento, naquela fase, reorganizando ou direcionando a nutrição para a próxima etapa fenológica, potencializando ao máximo a performance durante o crescimento vegetal.
Para conseguirmos identificar tais mudanças no campo, há algumas perguntas que podemos fazer para facilitar a adequação do manejo às diferentes fases: a planta está focada em desenvolver suas folhas? Está se preparando para florescer? Precisa deixar os frutos mais doces e saborosos? Esse tipo de questionamento está relacionado com a identificação das diferentes fases fenológicas e vamos agora abordar esse assunto de forma prática.
Por que conhecer as fases fenológicas de uma cultura?
Existem diversas vantagens em utilizar as fases fenológicas como um dos critérios para fornecimento de nutrientes: oferecer uma nutrição balanceada em todas as etapas do cultivo, ajustar no plano nutricional para melhores resultados, evitar gerar custos desnecessários, proporcionar programação antecipada do estoque de produtos e atividades a serem realizadas e possibilitar o estímulo do crescimento vegetativo ou generativo, o que ajuda a evitar mudança no ciclo da cultura, como floradas fora de época, ou mudança da relação fonte/dreno em momento crítico (Ex.: enchimento de maturação de frutos). Confira a seguir um pequeno resumo sobre as vantagens ao compreender as fases fenológicas de uma cultura bem como as desvantagens no momento onde existem carências no entendimento:
Como identificar uma mudança de fase fenológica?
Em resumo, podemos dizer que as mudanças de fases fenológicas ocorrem quando há mudanças na fisiologia e na estrutura das plantas, decorrentes de estímulos externos que favoreçam ou não tais mudanças. Essas mudanças possuem determinados objetivos de crescimento como:
- Enraizamento
- Desenvolvimento vegetativo (folhas)
- Floração (fixação de florada)
- Enchimento de frutos ou tubérculos (órgãos de reserva)
- Maturação dos frutos
Por exemplo: antes de uma planta iniciar sua fase reprodutiva (flores, frutos, sementes), em um primeiro momento, os depósitos para os fotossintatos são direcionados para formação das raízes (estrutura para fixação no solo e absorção de nutrientes), em uma etapa seguinte, voltados às regiões apicais para o desenvolvimento de área foliar (captação de luz para fotossíntese). Quando atinge um determinado estágio, o direcionamento passa a orientar-se ao desenvolvimento de flores para perpetuação da espécie, e mais tarde são os frutos – órgãos mais exigentes em nutrientes – os principais drenos para estes compostos. Os fotossintatos são compostos gerados a partir do processo de fotossíntese e são dependentes dos nutrientes que estão envolvidos nas reações bioquímicas que ocorrem para produzi-los, sendo utilizados pelas plantas para “abastecer” os drenos e, formar novas estruturas. Por isso, o fornecimento correto dos nutrientes em cada fase é determinante do sucesso de sua finalização para dar início à próxima etapa sem nenhum tipo de distúrbio ou deficiência na planta.
Para não esquecer:
É importante ressaltar que as fases fenológicas não são determinadas exclusivamente pela quantidade de dias a partir da semeadura ou plantio (que pode servir apenas como referência), mas sim por fatores da planta (como cultivar/variedade) e fatores ambientais (temperatura, luz, disponibilidade de água, solo, nutrientes e salinidade). Abaixo podemos conferir os principais fatores que interferem nas mudanças de fases fenológicas da planta:
Em relação ao ambiente, é importante observar que uma planta que esteja sob condições de estresse demorará mais tempo para se desenvolver. Por exemplo: um tomateiro cultivado sob baixa temperatura, pouca luminosidade, pouco acesso à água, em solo salino e com pH baixo, resultará, entre outros reflexos, no maior tempo para o pegamento de frutos ou até mesmo redução do seu potencial de êxito neste processo.
Entendendo a fenologia e potencializando a nutrição da planta
A nutrição tem grande influência sobre as fases fenológicas, e por esta razão a necessidade de nutrientes total da cultura deve ser dividida em cada uma das fases, possibilitando a aplicação da quantidade certa dos nutrientes certos no momento certo. Com o fornecimento correto do balanço nutricional, podemos potencializar o objetivo de crescimento de cada fase, possibilitando ótimas produções devido às demandas atendidas. Mas como?
O primeiro passo está em entender a funcionalidade de cada nutriente: cada cultura tem uma exigência nutricional, mas sabe-se que, em geral, o Nitrogênio está ligado principalmente ao desenvolvimento de estruturas, sendo muito necessário no crescimento vegetativo das plantas e desenvolvimento de folhas. Já o Potássio é muito ligado ao transporte e acúmulo de fotoassimilados nos órgãos de reserva, por isso, quando a planta inicia sua fase reprodutiva, a exigência deste nutriente pelas plantas aumenta consideravelmente. Tendo essas informações, podemos concluir o motivo pelo qual em um programa nutricional as plantas exijam uma proporção maior de Potássio e outros nutrientes envolvidos no processo fisiológico de fase reprodutiva. Este é apenas um exemplo simples e geral de como a nutrição pode influenciar diretamente na eficiência de produção: quanto mais conhecermos as fases fenológicas da cultura e a exigência nutricional, mais assertivos seremos e melhor será a produção.
Correlacionando as fases fenológicas com a curva de extração
Por meio de uma curva de extração podemos ter uma noção das exigências nutricionais da cultura por fase, mas ressaltamos a importância em conhecer previamente as fases fenológicas visto que cada região e tipo de solo podem influenciar no desenvolvimento das plantas. Por exemplo: a demanda da proporção de Potássio em relação ao Nitrogênio (relação N:K) na cultura do tomate aumenta ao longo do ciclo, principalmente durante a fase de frutificação. A informação dessa demanda na curva de extração nos dá um norte das exigências da cultura, mas se naquela determinada safra o clima for mais ameno, as plantas terão um certo “atraso” das fases fenológicas (que poderão demorar mais) e a relação N:K consequentemente irá mudar também ao longo do tempo.
Dicas práticas
A seguir, vamos descrever uma série de dicas práticas para a identificação de mudanças de fases fenológicas a campo, na prática do dia a dia e como utilizar este conhecimento a seu favor.
Cada cultura possui seus pontos-chaves para aferição de desenvolvimento adequado. Os pontos-chaves são características morfológicas das plantas que nos ajudam enxergar se o desenvolvimento está de acordo com a produtividade a ser alcançada (formação de flores, de frutos, tamanho da haste etc.). Abaixo alguns exemplos de características a serem observadas durante a mudança de fases fenológicas das culturas da cebola, batata e tomate:
Em resumo, as fases fenológicas mudam quando o dreno da planta se modifica: na cultura do tomate, como no exemplo acima, acontece quando a planta inicia o processo de floração, ou seja, encerra a translocação de todos os fotossintatos para as raízes e começa a translocar isso para o novo dreno, que são as flores e frutos.
Além de observar as plantas, é importante conhecer previamente a variedade que será implantada, visto que algumas variedades podem ter ciclos mais precoces ou tardios. O clima também influenciará diretamente no desenvolvimento das plantas e nos estímulos de mudanças de fases fenológicas: temperaturas muito quentes, estresse hídrico, número de horas de luz/dia podem acelerar ou atrasar o ciclo e as mudanças de fase.
Por estas razões é importante ter um amplo conhecimento sobre as mudanças que existem durante o ciclo de uma cultura e estar atento a elas: somente assim será possível planejar e monitorar de forma mais assertiva um programa nutricional em acordo com as exigências da planta e conforme seu estágio de desenvolvimento, de modo a potencializar ao máximo sua produtividade.