Menos Cloro e Sódio para uma maior performance no campo

No dia a dia da agricultura é muito comum observarmos que algumas fontes nutricionais de fertilizantes são geralmente mais utilizadas, principalmente pelo seu baixo custo por tonelada. Uma dessas fontes, que é usada tanto na forma pura como em adubos formulados, é o Cloreto de Potássio (KCl), aplicado tanto em adubações via solo (granuladas), quanto na fertirrigação (hidrossolúveis).

Apesar de ser utilizado como fonte fundamentalmente de Potássio, o KCl traz consigo o elemento Cloro, o qual compõe cerca de 47% do teor total deste fertilizante. O Cloro é um elemento essencial para as plantas, mas é um micronutriente exigido em baixíssima quantidade pelas mesmas: a quantidade contida deste elemento naturalmente na água e nos solos já supre as exigências nutricionais, sendo sua carência rara às plantas. Desta forma, quando o Cloreto de Potássio é aplicado com a finalidade de fornecer Potássio, uma grande quantidade de Cloro também é aplicada em excesso, causando toxidez às plantas, que vamos detalhar mais à frente. Além do KCl, no mercado existem outras situações semelhantes de fontes com aporte de nutrientes essenciais às plantas, como N, Ca, Mg e micronutrientes como Mn, Zn, Co, por meio de fontes à base de cloreto, e que do mesmo modo trazem consigo a entrega conjunta demasiada no elemento Cloro.

Outro íon que está presente no solo e na água de muitas regiões é o Sódio (Na+). O Sódio também possui alto índice salino e pode causar os mesmos prejuízos à semelhança da presença do íon cloreto. O Sódio não é um nutriente essencial para a maioria das espécies de plantas, mas é considerado útil, ou seja, a planta pode viver sem ele, entretanto, a sua presença é capaz de contribuir de alguma forma no crescimento e produção da planta.  A principal fonte nutricional que pode aportar esse elemento é o Nitrato de Sódio, muito utilizado para o fornecimento do Nitrogênio nítrico. Porém a sua aplicação frequente pode resultar nos efeitos negativos do aumento da EC da solução nutritiva, da solução do solo e da salinização do solo. Além do acúmulo do Sódio no solo que pode ocorrer pelas aplicações do Nitrato de Sódio, é preciso ficar atento às regiões que possuem este elemento naturalmente no solo e na água (devido à origem daquele solo). Por isso, é muito importante realizar a análise da água que será utilizada na fertirrigação: uma EC alta da água mesmo sem o aporte de fontes nutricionais pode dificultar a elaboração da solução nutritiva e salinizar o solo.

Por isso, o conhecimento prévio das implicações, tanto do Sódio como do Cloro, sobre a fisiologia das plantas, ambiente, bem como sobre os impactos sobre a produtividade, é essencial quando nosso objetivo for preconizar o desempenho na sua forma de cultivar. Pensando nisso, abaixo destacamos algumas vantagens e desvantagens em não se conhecer esses aspectos. Entenda que com o domínio destas informações acerca das influências desses elementos, podemos:

Vimos que o Sódio e o Cloro podem potencializar o processo de salinização dos solos, condição esta que traz muitos prejuízos e obstáculos ao sucesso de desenvolvimento vegetal. Então, como podemos desviar de tais situações a partir de nosso manejo diário no campo?

Como evitar os riscos de salinização?

Todo fertilizante comercializado no mercado, em sua descrição de embalagem, apresenta uma série de características técnicas, das quais entre elas encontra-se o índice salino. Em virtude da diversidade em matéria-prima e diferentes fontes, cada fertilizante apresenta uma variabilidade quanto ao teor de sais em sua composição, expresso em um indicador denominado de índice salino.

Em síntese, o índice salino é responsável por refletir o grau de pressão osmótica provocado pela presença destes sais na formulação do fertilizante e é o indicador mais utilizado para se fazer a comparação entre a salinidade de diferentes fontes nutricionais. Na prática, este índice é quantificado pela comparação a um parâmetro padrão: o Nitrato de Sódio. Em outras palavras, para se estabelecer o índice salino de um produto, devemos tomar sempre o Nitrato de Sódio como o valor máximo dentro da escala de salinidade (0 a 100, expresso em porcentagem). Quanto mais abaixo de 100, menor o índice salino, quanto mais próximo ou maior que 100, maior o índice salino. Abaixo, uma tabela com alguns dos principais fertilizantes do mercado e seu índice salino:

 

Qual a relação entre índice salino e condutividade elétrica?

                  Sabemos que os fertilizantes, uma vez dissolvidos em água, compõem uma solução iônica, ou seja, íons mais água. Os íons são condutores de corrente elétrica e isso é uma característica muito importante, já que nos viabiliza de forma efetiva a mensuração da concentração dos nutrientes (íons) presentes em solução, sendo que essa informação é expressa por meio da condutividade elétrica (CE).

Na prática, fertilizantes com teores elevados em concentração de determinados sais (ex.: cloreto, Sódio) contribuem com o aumento da condutividade elétrica, e os de baixa concentração destes sais conferem menor impacto. Aqui está um ponto muito importante a ressaltar: uma solução pode ser composta por diferentes combinações em fontes, as quais reproduzirão uma condutividade elétrica pela presença de íons em solução, sejam íons de interesse ou não à nutrição vegetal. Do ponto de vista nutricional para a planta, a qualidade da nutrição do que ofertamos está na composição e balanço em macro e micronutrientes presentes, ou seja, quais íons estão compondo a solução nutritiva (ex.: N, P, K, S, Ca, Mg e micronutrientes). E por que é importante termos a clareza deste conceito? Pois enquanto na posição da tomada de decisão e frente à elaboração do programa nutricional, uma de nossas ações de interferência estará na escolha da fonte de nutrição ideal, ou seja, aqui poderemos ajustar a condutividade elétrica e garantir a oferta nutricional adequada (completa e assertiva em nutrientes).

A fonte nutricional em si sempre imprimirá uma condutividade elétrica e estará sob a escolha da fonte nossa capacidade de reunir os elementos que farão parte desta solução nutritiva, eliminando ou reduzindo aqueles que atuam incisivamente no aumento ou potencialização da salinidade para o ambiente de produção. Para compreendermos a sutileza de como analisar as informações (escolha da fonte, EC e índice salino), vamos utilizar um exemplo comparativo de duas soluções nutritivas simples: uma solução contendo Nitrato de Potássio (solução 1) versus a solução com Cloreto de Potássio (solução 2).

Além de fornecerem nutrientes requeridos às plantas, ambas soluções imprimirão uma condutividade elétrica: isso é inevitável. Entretanto, do ponto de vista qualitativo e nutricional, podemos dizer que a solução 1 (Nitrato de Potássio) é mais interessante: além de aportar dois macronutrientes essenciais, contribui para uma salinidade inferior comparada à solução 2, a qual por sua vez apresenta elevados níveis de Cloro (o que é altamente prejudicial para a planta, tanto pelo seu excesso no aporte por meio da fonte como também o aumento da pressão em relação ao aspecto salino no ambiente). Em resumo, fundamentalmente devemos nos atentar sobre quais íons formam esta EC, de modo a saber se a solução é completa nutricionalmente para a planta.

Pensando no manejo da nutrição, o conhecimento da concentração dos íons presentes em solução (seja no solo ou na solução nutritiva) pela condutividade é muito importante sobre outra perspectiva: avaliar o conteúdo da solução nutritiva. Com a leitura da condutividade elétrica é possível aferir o saldo de nutriente disponível, o que consequentemente nos permite também o monitoramento de forma temporal sobre a velocidade de absorção destes íons pela planta.

O segundo ponto é a questão da tolerância à salinidade das plantas onde, considerando que ela é variável de acordo com as espécies, teremos plantas com tolerância à salinidade, sendo umas mais sensíveis do que outras. De maneira geral, a alta salinidade atua negativamente sobre o desempenho do vegetal, tanto pela condição de estresse como também de toxidez que ela causa.

Além de ter conhecimento prévio da tolerância das culturas, é interessante monitorar o grau salino do ambiente e prevenir perdas em rendimentos por tal fator, bem como buscar a adoção de fertilizantes oriundos de fontes mais eficientes e com menores teores de Cloro. O monitoramento da condutividade elétrica da solução nutritiva (no caso de sistemas hidropônicos) pode ser realizado no dia a dia no campo através de uma ferramenta denominada de condutivímetro.

Para sistemas de fertirrigação, pode ser realizada a análise com um condutivímetro de amostra 1:2 (uma parte de solo para duas de água) ou com o auxílio de um extrator de solução. Importante também monitorar a condutividade elétrica da água que é utilizada, visto que ela pode, naturalmente, ter uma EC alta e isso deve ser levado em conta.

Enfim, por que utilizar fontes livres de Cloro?

O Cloro, sob forma de íon cloreto em solução, quando em excesso pode causar diversos tipos de prejuízo:

1° – Por ser um íon de carga negativa e altamente móvel na solução do solo, causa antagonismo na absorção de outros macronutrientes essenciais (também de carga negativa), como Nitratos, Sulfatos e Fosfatos.

2° – Por ter alto índice salino, causa aumento considerável da EC (condutividade elétrica) da solução nutritiva e do solo, resultando em possível queima de raízes e depreciação da produtividade e da qualidade do produto colhido (diminuição do acúmulo de matéria seca).

Fonte: Furunes – IPI average 46 experiments

3°- Maior acúmulo de água devido à regulação osmótica da planta e consequente diminuição do tempo de vida pós-colheita.

4° – Em sistemas de fertirrigação e aplicação via cobertura, pode ocorrer a salinização do solo, o que compromete negativamente para o adequado desenvolvimento das plantas.

5° – Possui efeito maléfico a microrganismos e gera efeito negativo na biologia do solo.

Lembre-se que, ao utilizarmos fontes livres de Cloro em sua composição, contribuiremos para o melhor desempenho do desenvolvimento vegetal. Programas em nutrição com fontes livres de Cloro propiciam muitos pontos positivos para a otimização dos processos fisiológicos da planta e sistema de produção, como:

Sendo assim, utilizar fertilizantes que tenham fontes nutricionais com baixo índice salino pode ajudar a manter a EC mais baixa como, por exemplo, no caso do Nitrato de Potássio (KNO3), Sulfato de Potássio (K2SO4), Nitrato de Amônio (NH4NO3), MAP. Em resumo, devemos utilizar fontes corretas em conjunto com o manejo dos outros “C”, como: local correto para aumentar a eficiência de absorção pelas plantas; consequentemente aplicando a dose correta, sem excessos; e no momento correto, de acordo com as exigências de cada fase fenológica da cultura.

Como vimos, o Cloro e o Sódio são os elementos que mais afetam a EC devido ao seu índice salino, onde o seu excesso traz consigo diversos prejuízos ao sistema de produção. Por isso, ao se estabelecer um programa nutricional para sua cultura, não esqueça de avaliar o índice salino do seu fertilizante, leia sempre o rótulo para avaliar as fontes nutricionais e as características do produto. Opte por fontes de qualidade, com baixo índice salino e livres de Cloro.